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19 de out. de 2009

Um pouco de política na Jamaica dos anos 70.

Não sei como é agora mas, a política jamaicana, pelo menos durante os primeiros 20 anos após sua independência (1962), era bi-partidária. De um lado, JLP (Jamaican Labour Party), de direita. De outro, PNP (People's National Party), de esquerda.
Em 1972, o PNP ganhou sua primeira eleição, utilizando uma estratégia de campanha muito interessante, decisiva para o sucesso do partido. Michel Manley, eleito primeiro ministro da Jamaica, vinha de anos e anos como líder sindical e, portanto, sabia lidar com a grande massa trabalhadora, a maioria absoluta do povo. O que ele e sua equipe fizeram para conquistar o coração do eleitorado? Adotaram o reggae e sua retórica como principal aliado.
Nos discursos que promovia, Manley falava na condução dos jamaicanos à terra prometida, a Etiópia, na legalização da maconha, e que dias melhores viriam. Não é a toa que, "Better Must Come", de Delroy Wilson, virou o tema musical da campanha. Numa sacação absurda, o PNP montou um trio elétrico, chamado "Musical Bandwagon", com a função de percorrer a Jamaica - fato raro na política da ilha, que só concentrava seus esforços ao redor de Kingston - fazendo comícios, distribuindo santinhos e promovendo shows ao vivo, como os de Bob Marley, Clancy Eccles, Alton Ellis, Dennis Brown e Inner Circle. Mais o ato mais esperto de Manley, foi usar, sempre que aparecia em público, o "rod of correction", cetro que Haile Selassie, Jah Rastafari, o havia presenteado durante uma visita a Etiópia. Para os rastas, nada mais era necessário. Manley era o escolhido. Pode paracer ingênuo demais acreditar nisso tudo, mas o fato é que o povo sofredor da Jamaica acreditaria em qualquer coisa que lhe fosse dita com "jeitinho". Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Como era de se esperar, o governo do PNP foi um fracasso e uma grave crise era eminente. Gangues pipocavam por todos os lados e as duas principais fontes legais de renda caíram vertiginosamente: a exportação de bauxita e o turismo.
A reeleição, obtida em 1976, só foi conseguida porque Michel Manley dizia que o governo de Edward Seaga (também conhecido como CIA - Ga), presidente do JLP, seria ainda mais desastroso. Além disso, ele defendia que o PNP pertencia ao povo negro, uma alusão ao fato de Seaga ser descendente de sírios.
O segundo mandato foi ainda pior que o primeiro. A violência chegou a tal ponto que beber uma cerveja Red Stripe numa área controlada pelo JLP era pedir pra tomar tiro. A gota d'água para o surgimento de violentas revoltas contra o governo foi a "Operation Buccanear", envio de tropas militares americanas com o objetivo de destruir as plantações de maconha da Jamaica. Era uma tentativa desesperada de fazer uma média com os EUA, e, com isso, reaver os investimentos de multinacionais que haviam sumido graças a aproximação jamaicana de Cuba e países com movimentos de guerrilha.
O irônico da história, é que o PNP foi eleito pelo reggae, mas também foi deposto por ele. De 73 até 1980, quando o PNP perdeu as eleições, a Jamaica conheceu seu período musical e cultural mais fértil, o reggae roots. O caso jamaicano está aí para confirmar a tese de que a produção cultural de um país se intensifica quando este é posto mediante graves condições.

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